31 março 2007

CÃES III



Não há duas sem três e com esta nota espero terminar a saga, apresentando os "artistas":
Eis o SUTRA... um corredor nato.
Como o outro são novos mas nunca vi um como este raposinho. A sua energia, se fosse transformável em potência daria para ligar as luzes de Santo André durante horas.
De carácter dominante em relação ao outro nunca se deixou secundarizar nas corridas, nas brincadeiras e no "corre-ao-prato", nova modalidade de acertar num prato, não no ar mas quando ainda "estava" a aterrar da mão amiga, para o chão. E os saltos que dava em plena correria, por entre a vegetação ?? Mais de um metro, sim senhor, e em passo de corrida.
Foi também o mais desinibido e curioso do par e também o que rápidamente se adaptou ao nosso usufruto da sua presença. Por último despontavam em si os apetites "sexuais" pelo que, mais por instinto do que evidência física, qual automato, se punha em cima do companheiro e vá de... truca-truca. E não perdia tempo nos treinos, era sempre que podia e se lembrava. Daí o ter sido por mim apelidado de Sutra.
Este amigo aqui é o KAMA, o meu pacholinha côr de palha, que não sei porquê me parece ter artes de coelheiro, se bem que de caça não pesque nada, mesmo nada. Aliás ficou-me a ideia de que estes animais teriam sido destinados para isso, não sei, e se calhar o "amor" por eles terminasse logo aí, no incumprimento de dever.
Calmo e pacato, seguidor de estímulos e iniciativas do seu companheiro, nunca esteve para se consumir. Alinhava nas brincadeiras lideradas pelo Sutra, ficava-se na "concha" quando abordados por outros cães e uma vez, até, se calhar pelo tamanho daquele pastor alemão ( tão novo qanto eles ) guardou os "berlindes" sob a cauda e puxando orelhas para trás desarvorou numa correria até ao parque, interrompendo uma saída ao mar e à areia. Com o passar do tempo ( e da fome ) de quando em vez "mostrava os dentes" na hora da mastiga, mas nada de especial.
Demorou mais tempo a perder medo e a acolher o nosso chamamento e quando o fazia denotava uma desconfiança instintiva, assim como se fosse levar pancada ou castigo certo. Já para o fim, quando o chamava, embora sempre em segundo, já se levantava nos traseiros e "prendava-me" com um saudar de patitas, assim como quer quer dar um abraço, percebem??
De sexo nada queria saber e tanto se lhe dava, como deu, que o Sutra o encavalitasse nos seus gestos iniciáticos, quase imberbes. Olhava para ele de soslaio e embora "sacudido" deitava-se, tal como na imagem, como quem dizia: - Deixa-me ao menos aproveitar o embalo para adormecer, tsst tsst tsst....
E assim encerro a saga de um inesperado KamaSutra de Santo André.



30 março 2007

CÃES II - Solidariedade

O reverso da medalha aconteceu, entretanto.
A princípio éramos nós os que alimentavamos estes cães. Durante a nossa estada no parque foram motivo diário de conversa e comentários. Na aridez do espaço começaram a aparecer "companheiros" ( poucos ) de fim de semana que inevitavelmente se solidarizaram com os animais e... foi bonito!!!!
O casal Reis ficou grudado aos animais. Por ela, Fátima, teria ficado com os dois cães, não fora ter já dois, mais um gato mais coelhos e ainda passarada e sei lá que mais. Antes de abalarem para casa até compraram ração e bolinhos próprios. O Pedro filhote só dizia!!!! Oh mãe...fica lá com eles.... O Reis tentava assobiar para o lado mas sabia o risco que corria ( mais dois inquilinos e por certo não se importaria )... Os amigos Áurea e Manuel deixaram leitinho para os bichos... Até uma funcionaria da manutenção lhes trouxe uns ossitos...
Mas o fim de semana acabou célere e lá voltamos nós a ficar "donos" dos ladinos béu-béus !!! Desta vez para além da nossa ementa ainda tivemos, por uns dias, comida farta e variada.
Chegada a nossa hora de também abalarmos, a custo lá nos despedimos deles e eles... até pareciam que sabiam o que se passava. Remeteram-se ao seu cantinho, pouco efusivos, reservados e a olhar-nos com "aquele" olhar que nos enleia e magoa. Ainda vieram a correr atrás da caravana, até ao portão do parque mas ficaram-se por ali.
Isto foi a 6 deste mês e não lá voltamos ainda. Ficou-nos a ideia de que iriam para o canil, onde os tratavam bem mas.... até quando????
Hoje, regozijamos, pelo menos por um deles. O rapozinho, o castanho, acabou por ser adoptado por um companheiro ( não sei o nome mas conheço-o de vista, bem haja ) que por certo o tratará bem, assim como as suas duas filhotinhas. Foi o que nos disse hoje a Fátima em telefonema de cortesia e cordialidade. Quanto ao côr de palha ( para mim o coelheiro ) teria como destino o canil até ontem, caso não houvesse outro desfecho... Ficamos felizes pelo desfecho de um e tristes pelo adivinhado destino do outro. De qualquer forma ainda temos a esperança de que alguém ainda o adopte, salvando-o de um canil que pode bem ser o seu último lugar.
Obrigado a todos e a eles próprios pelos sentimentos que mobilizaram, levando-nos a acreditar que ainda vale a pena acreditar nos da nossa espécie.

26 março 2007

CÃES I

Estes dois cães foram abandonados. Pequenos de porte mas com uma "alma" tão grande mas ao mesmo tempo tão "humilde" e um amor para dar "tão" incondicional.
Dizem... que os seus donos foram ao parque de campismo num fim de semana e na saída... lá os deixaram ficar entregues a si próprios, num local que, com algum material colocado não tinha ninguém acampado ou aparcado. Um Fevereiro severo afastava os mais audazes de uma estada em Santo André com o mar à porta a encher de ventos e marés.
Chegados ali para passar uns dias fora do rebuliço da cidade foram os primeiros e únicos "companheiros" que nos vieram saudar. Não efusiva nem confiantemente... antes doídos pelo abandono, medrosos ( que tratos levariam?? ) à espera de tudo menos amor, carinho, afecto, mas mesmo assim e sem condição apostados em se darem a mais uns humanos que se calhar os iriam escorraçar de novo, curvando-lhes ( ainda mais ) a sofrida cauda.
Ao vê-los e imaginando que lá se encontravam há uns três...quatro dias... cogitei, mais uma vez de entre tantas.... Como é possível que as pessoas façam esta crueldade ?? E ultimamente parece "estar na moda" abandonar cães e gatos nos parques de campismo !!!!! Mas como é possível não "assumir" a responsabilidade de dar um pouco de protecção a quem tano nos dá??? E de repente caio abruptamente em uma outra constatação... Então, se há pessoas por altura das férias e outras conveniências ( natal e outros que tais ) que abandonam os idosos nos hospitais "esquecendo-se" de os ir buscar após a alta médica e aqui estou eu a admirar-me por terem abandonado estes cães.
E é nesta quase ingenuidade que penso o seguinte... Não têm alma... foi-lhes retirada no momento em que pontapearam para fora do carro os traídos animais...