18 dezembro 2008

Um conto, quase de Natal

Era uma vez um Útero.
Nessa arena de luta e sobrevivência, nas profundezas do corpo, um navegador lutando contra tudo e contra todos (e eram muitos) venceu todas as batalhas até invadir de forma fecunda, o porto de abrigo, amarrando-se a um cais para assim, aceite e ancorado, fazer a mais linda de todas as viagens que um navegador da sua estirpe poderia almejar.
Na nave do tempo, com ventos ancestrais a enfunar as velas do desejo e da fusão, protegido pelos fluxos venturosos da herança dos seus, eis que se criou Vida na madre gôndola e que um dia atravessou o canal de todos os canais para desaguar em novos mundos num só planeta, rotas a descobrir, naquela que será, essa sim, a sua única e indelével viagem.
Aos seus Criadores uma incumbência mais se impunha...

- Que nome dar a este nosso menino?
- Que direito temos a impôr-lhe um nome?
- Por que não há-de ele ter o direito de se escolher a si mesmo, perante o mundo?

Grande responsabilidade a deles... Os comuns dos mortais escolheriam o caminho mais curto e fácil... Serás João, António, Pedro, Bernardo ou ainda José ou ainda Manuel... Mas não. Não seria dessa forma assim tão fácil que descartariam esta questão. Havia algo mais que poderiam fazer e que pudessem legar ao seu rebento.

- Não... não escolheremos o seu nome... ELE é que o vai escolher... decidiram.

Daí em diante, e já quando impunha a sua presença com pequenos sobressaltos, pontapés e outras manifestações de presença no abobadado do  ventre, os Criadores escolheram a citação dos nomes prováveis. Foram muitos, mesmo muitos e compassados, durante o resto do tempo uterino e a eles foi o menino dando resposta.
À maioria dos citados, nem sequer mexia, nem nada de sinal. Esses foram desde logo ignorados apenas ficando um rol dos que físicamente tiveram a sua manifestação.
Deste rol, deu-se lugar a nova citação para confirmar as ditas referências...

- Olha a este não deu sinal
- Repara a este repetiu a mexida...voltou a mexer... viste?

E o engraçado foi que, após confirmação de um punhado de nomes, por mais do que uma vez, restaram apenas alguns deles, sistemáticamente referênciados com as suas mexidas e deslocações .

- É mesmo giro, repara... olha como ele se mexe !!!
- Ai... mexeu-se muito desta vez..
- É, parece que reaje melhor a este tipo de entoação de voz, sei lá...

E eis que se fez a grande travessia ...
E o menino aconteceu, perfeito e robusto, pronto a marear nas rotas e marés da vida,. Menino de sua Mãe, de seu Pai e de Todos quantos o ansiaram e bem quiseram.
 
- Então, vamos lá a saber o nome que queres para esta viagem!!!... seu malandreco....

O bébé agarrou o dedo adulto. De Pai ou Mãe, não vem ao caso... apenas o agarrou ao sentir o tacto... e assim ficou.
E a citação voltou de novo. Mas apenas daqueles nomes já tão filtrados "in útero"... até se quedarem em um só.

URIEL

- Viste? Sempre que se diz o nome ele aperta a mãozita...
- Deixa ver de novo !!!!

URIELLLLLLL.... URIELLLLLL

- Olha!!!!  Outra vez,  sentiste? .... Põe tu o  teu dedo e chama-o de novo !!!

URIELLLLL... URIELLLLL

- Incrível !!!!  Apertou de novo a mãozita... meu querido !!!!!

Então, assim será.
Chamarte-ás URIEL

E assim se compôs um presépio...

A mãe Maria o pai Rui e o ai-Jesus dos seus olhos... Uriel...

(A vaquinha, o burrinho e as palhinhas moram no nosso imaginário e cada um  enriquecerá o conto, acrescentando um ponto)


(
Arcanjo URIEL, por teu nome sabemos que “O Deus é minha luz; ou O Deus é Luz; ou a Radiação de Deus; ou O Deus é o Princípio da Radiação da Luz; ou o Fogo de Deus”.)














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04 outubro 2008

O MELHOR AMIGO DO HOMEM...

Estavam os quatro à mesa mexendo o tempo nos círculos sincopados da mexida dos respectivos cafés, onde o tintilar das colheres embalava a quotidiana presença no mesmo Café de sempre.

- Olha lá, ò Victorino, então para ti qual é o melhor amigo do homem?
- Eh pá... Será um lugar comum mas é mesmo o cão... sim, sim... o cão !!
- Pois, também acho... concordo contigo, oh Brás - retrucou Victorino - concluindo... Esses incríveis e inestimáveis animais... Quanto mais conheço os homens, mais gosto deles....
- Eu cá, acho que o melhor amigo do homem é... a mulher... dos outros - gargalhou o Eufrázio - naquele seu permanente estilo alegre e prazenteiro, com a tal pitada de sal, a pender para o brejeiro - ... desde que tenham licença amorosa e vacinas em dia, por via das coisas, ah ah ah...
-Lá estás tu... só podia ser... Quem te ouvir, comes este mundo e o outro e afinal estás magro como um cão (nem de propósito) com um baixo ventre cheio de misérias, rs rs rs.... - riu-se o parceiro da frente, o Ganhão.
Ora vivam... conversa animada... - disse o Telmo, chegado de casa ainda com o palito a bailar entre dentes, de repasto feito - ... então de que se trata ?
Oh "Bufas" - atirou Victorino - o assunto é simples e corriqueiro... Para ti, oh Telmo (aquele apodo por certo não necessita de explicações) quem é o melhor amigo do homem, pá, ?
Isso nem se discute, atirou o "Bufas" - chamando a si todas as atenções - ... É o autoclismo !!!
- Este gajo está parvo - disse Ganhão, atirando - .... Que bebeste ao almoço, pá, hein ?
- Se um diz mata o outro esfola... - adiantou Victorino - ... Este e o Eufrázio bem se podem juntar... gajas e autoclismos...
É o que vos digo... - reafirmou o Telmo, com ares de grande convicção - ... o Autoclismo, tal e qual...
- E continuou ...
- Então, Quando estamos apertadinhos na mijinha... vem sempre o "peidinho" da ordem, não é?
- Sim... e que é que isso tem a ver ?
- Ora, quando está alguém ao nosso lado, então... é aí que o melhor amigo do homem salva a situação...
- O autoclismo...







11 maio 2008

Tribunal de Pequenos Delitos

Comprei este livrinho numa feira de antiguidades que se realiza aqui em Setúbal, aos primeiros e terceiros sábados de cada mês.
Foi o título que me agradou e me abriu perspectivas de uma leitura humorada. Autor ?? Heitor de Campos Monteiro (José de Artimanha) Género ? Contos humoristicos. Aliciante ?? 3ª edição, ano de 1938.
Para além de tudo isto, ainda o facto de ser "coisa" do Porto, Livraria Civilização - Editora, Rua do Almada ( Ai Porto, Porto, que me estás no goto !!!! )

Eis um pequeno exemplo, que transcrevo, de um sadio humor, simples mas eficaz !!!!
(do memorial que o pai do autor lhe faz)

Conta-se de uma mulher casada que, encontrando na rua uma amiga, se lhe atirou aos braços chorando, a oferecer-lhe a sua nova morada num hotel de segunda ordem.

- Zangaste-te com teu marido ? - perguntou a amiga, admirada.
- Zanguei.
- Pregou-te alguma peça ?
- Uma peça mais indecente do que as revistas apresentadas pelas Companhias exclusivamente femininas: surpreendeu-me nos braços de outro homem.
- O quê ?... Pois tu enganaste o teu marido ?!

E logo a outra, indignada:

- Perdão ! Quem me enganou foi ele, que saiu de casa para uma viagem de oito dias e voltou logo na noite seguinte !

E mais não digo...
E vou acabar de ler o livrinho

Próspero





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08 abril 2008

PRESSÁGIO OU HOMENAGEM ??


No passado domingo este magnífico emblema, clube, lídimo representante das gentes "tripeiras" e de um Norte sem fronteiras, conquistou mais um título, isto apesar de "ainda" faltarem cinco ou seis jornadas para um final de Campeonato onde, a despeito de "muitas" convicções a verdade é só uma ... O poderio desta Armada, muitos furos acima dos seus habituais rivais, a sobrepôr-se a todos quantos tentaram obstaculizar o feito (dentro e fora dos relvados) uns com a dignidade de profissionais (os jogadores, alguns sem salários em dia) outros com os "truques" do costume para desacreditarem o mérito e a eficácia ganhadora dos "Dragões" na ténue tentativa de assim justificarem os seus (in)sucessos, frustações e promessas saloias. Adiante porque ainda há borracha para gastar nos pneus...
Tudo a propósito da transmissão televisiva do jogo com o Estrela da Amadora.
Estava eu a viver ainda o momento de euforia do primeiro golo do "nosso" FCP quando e mirando o écran do aparelho me apercebo que os cantos deste apresentavam umas notórias manchas triangulares de um azulado muito interessante mas que me suscitaram um certo alarme: "então agora que está a dar o jogo é que isto começa a avariar ??... mau, mau, mau!!! não me digas que vou pôr as barbas de molho para um arranjo !!! ". O que é certo é que as manchas lá ficaram para o resto da noite.
- Bom, pensei eu... Do mal o menos, o que me consola é que ainda pude ver o jogo e acompanhar os festejos no Estádio do Dragão e fora deste. Amanhã verei o que fazer com o televisor!!!
No dia seguinte lá fui ligar o aparelho e... para espanto meu... as coisas, as manchas, já lá não estavam. Aqueles sinais de que qualquer transistor, chip ou lá o que fosse, estivessem a dar o "dito-mestre" e a "crashar" a máquina, pura e simplesmente "d e s a p a r e c e r a m" tal e qual assim... fssst... e nunca mais voltaram.
Alegria !!! Já não vou ter que gastar pilim-pilim com aquilo.
Mais alegria ainda !!! Numa reacção "humanizada" o meu vetusto, anoso e conservador ( mas excelente ) televisor Sony, embandeirou em arco ( foi mais esquadria ) e antecipadamente foi festejando e homenageando os autores de um saboroso TRI, engalanado de mil côres mas orlado a AZUL ... e BRANCO, claro.

Puoooorttttooooo !!!!


31 março 2008

SER SOLIDÁRIO

Há momentos de grandes palavras e outros em que a acção valerá por milhões daquelas.
É neste sentido que peço a quem me lêr que percam uns segundinhos do vosso precioso tempo e acedam a este endereço:

http://www.carolinalucas.com/

e percebam a razão de uma qualquer solidariedade, mesmo que de uma simples palavra de alento ou encorajamento.
Fomos pais, somos avôs ou qualquer outro elo familiar e por isso mesmo somos de condição maior... a humana.
Percebam o enorme esforço e sacrifício destes pais e tornem mais titânica a sua determinação em recuperar para si, a sua Carolina, na posse de todas as faculdades físicas motoras, para que deixe de ser uma criança diferente.

Bem hajam

Próspero

04 março 2008

SETÚBAL, CABISBAIXA...

Politicamente, sabemos que o País atravessa uma das maiores (se não a maior) crises de sempre.
A credibilidade dos nossos políticos baixou, em e há muito, a fasquia do admissível. A capacidade destes em  mobilizar convicções é directamente proporcional à sua premente falta de imagem, mística, seriedade e halo de verdade que os deixou de envolver faz muito tempo, dando lugar a um manto de denso (duvidoso) nevoeiro que os enclausura. Anjos com pés de barro, figuras ténues e amusas que nesta condição fazem "ouvidos moucos" aos protestos de uma sociedade, de um e de todos.
Quem anda pelas ruas de Setúbal constata isso mesmo.
As pessoas andam de olhos no chão, ora tristes ora acabrunhados ora ainda desiludidos... Dei comigo próprio (de há longos tempos) mecanizado naquele comportamento. Olhos no chão.... Mas não só por isto...
A juntar ao que acima aludo, concluo que as pessoas têm que andar de olhos no chão também por causa de uma "política", a do comportamento, social, de um e de todos... Pois não é que em qualquer rua desta linda cidade nos habilitamos a moldar as solas dos sapatos nas massas fedorentas dos dejectos dos cãezinhos, caso olhemos de frente e em frente ??!!! Pois não é que "impunemente" as pessoas passeiam os seus animais sem o devido saquinho para os "cócós" e sem o devido respeito pelo transeunte, pela saúde pública, e sem respeito por si mesmo ??!!!
A estes, nomeio-os ainda de "chicos espertos" !! Saiem das suas portas e para os animais não lhes sujarem os "domínios" postam-nos no passeio do prédio ao lado, no carro do "outro" (enfim em nada que seja seu) no jardim onde as crianças depois brincam, os idosos descansam e onde existe até, pasme-se, um recanto próprio para os ditos, saquinhos para os ditos, etc.... mas os animais não aprendem com a prática e experienciação. No dia seguinte lá estão com os seus cãezinhos a repetir os mesmos actos.
Enfim, políticas !!!
Analogias?? Muitas.
Os políticos descredibilizam-se com as suas atitudes ?? Os cidadãos igualmente !!
A Sociedade não é capaz de reagir às adversidades e imprudências governativas ??? Os cidadãos, igualmente são incapazes de exigir do seu próximo, do seu vizinho, todo o respeito a que têm direito no usufruto das partes comuns do seu dia a dia.
Os políticos delapidam o dinheiro de todos nós com projectos e obras que nunca se erguerão ?? Os cidadãos, igualmente são incapazes de "desinvestir" nas eminências pardas que pululam nos mais diversos cargos publico-políticos !!!!
Nos idos de 80 do século passado alguém, por exemplo, meteu o "socialismo" na gaveta... Nos idos de ontem, os de agora, fecharam a dita gaveta e deitaram a chave ao rio, não vá ninguém encontrá-la.
Por fim, talvez a mais contundente das analogias...
Os extremos tocam-se...
Os políticos só fazem "trampa" ??? Os donos dos cãezinhos também !!! E os pobres cachorros não têm culpa alguma... e ambos os fazem fora dos seus "domínios" não vá a coisa cheirar mal, mesmo muiiito mal.

E o burro sou eu ?? !!



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